sábado, 16 de maio de 2009

Brisa da manhã

Ainda era bem cedo quado abri as janelas de par em par. O vento em brisa entrou, rodopiou sobre mim e percorreu todas as divisões da casa como se a conhecesse há muito. Todos os fins de semana sinto esta ânsia em o deixar entrar, esta vontade que ele me traga algo de novo, algo que só ele tem para me contar. Todos os sábados de manhã o recebo e todos ele dança comigo em silêncio. Nessa dança dá-me as certezas dos dias em que não tenho as palavras. As vozes são movimento e sinto a mesma certeza, nesta ausência forçada, que sinto nos dias em que não estou só.
Há uma solidão latente a estes dias soalheiros em que chove dentro de mim.
A saudade carregada na brisa fica quando ele parte, e faz-me companhia. Ela sim fala comigo. Fala-me do que já passou. Fala-me de outra realidade, que não a minha, de outro lugar que não esta praia de casa plantada sobre a areia.
Etéreo como sou quase me esquecia das margaridas. Plantei-as a semana passada e precisam de ser regadas. Precisam de carinho, precisam de amor. As flores são como as pessoas, como as relações, têm que ser alimentadas e ser-lhes dada atenção senão sucubem à primeira brisa mais forte.
Hoje, não queria regá-las sozinho. Não queria esta solidão. Não queria esta multidão que invade o areal e ainda me faz sentir mais só. Talvez vá comer um gelado, ou uma bola de berlim, ou até beber algo fresco à beirinha, na rebentação. Talvez olhe para trás e te veja, ou talvez a porta da casa, azul marinho, esteja como sempre está, só, num tom cada vez mais azul solidão.

9 comentários:

Ana disse...

A minha avó ainda hoje me diz que as amizades - e as relações em geral - são como as flores, precisam de ser regadas e cuidadas. So true but...

Bom fim de semana

Storyteller disse...

As flores e as relações têm de ser acarinhadas, nutridas, trabalhadas. Não devesm ser abandonadas ao seu destino, ignoradas.

E é tão bom dançar... Até mesmo com uma brisa suave da manhã.

;)

Menino do mar disse...

Anna:
E há flores e flores :)

Story:
Mas há quem costume abandonar flores? ;)

Storyteller disse...

Há! Há quem deixe ao abandono o jardim que plantou...

About Winter disse...

"...Talvez olhe para trás e te veja, ou talvez a porta da casa, azul marinho, esteja como sempre está, só, num tom cada vez mais azul solidão"

posso deixar-te um abraço apertadinho? identifico-me com muitas das tuas palavras...com os teus sentimentos...

Boa Noite*

Menino do mar disse...

Story:
Isso são jardineiros de meia tigela, não têm mãos para flores :)

Christiana:
:) um abraço não se recusa, mesmo que seja virtual :)

izzie disse...

Gostei... não, Adorei.
A forma como escreves, sentes, partilhas... o caos da solidão.
Obrigada por, por momentos, também teres estado dentro da minha mente.
Cada pedacinho me faz gostar mais e mais da tua casa...

Beijinho,

Anônimo disse...

Em poucas palavras... BONITO!

Anônimo disse...

Gostei do blogue;)

boa semana

bj