domingo, 20 de fevereiro de 2011

madrugada


Folha de ouro
caída
árvore despida no teu peito.

Rio revolto
assusta
margens que correm esquecidas

O mar espera aberto,
como o abraço desperto
na madrugada esperada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Amor a lápis de cor


Descobri
no fundo da lata da escola,
de mãos
h
e
s
i
t
a
n
t
e
s
transbordando sonhos,

que o teu amor só o podia desenhar
se fosse a pis de cor.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Retrato


Havia folhas soltas quando se passeava pelo entardecer na estrada que levava ao lago. Rodopiando ao vento, dançavam, lembrando pequenas fadas em seu redor, num movimento à primeira vista aleatório mas que a fazia sonhar que os seus pés flutuavam e nas suas costas existiam asas de anjo que a podiam levar onde quer que quisesse ir.
Era sempre assim nos dias em que se sentia feliz. Quer estivesse a chover ou o sol brilhasse num foco ofuscante num céu monocromaticamente azul, saía de casa e dirigia-se ao lago. Era filha daquelas águas serenas, nascida numa noite sem Lua, arrancada abruptamente à harmonia de um salgueiro à beira d'água.
Sempre que lá chegava, sentava-se e despia-se. Toda nua entrava na água e deixava-se flutuar, sentido nas costas o mundo de onde viera, sentindo na frente o mundo onde tinha que viver.
Fechava os olhos e voava como as folhas que rodopiavam em seu redor a caminho daquela paz.
Recordava o seu dia, e hoje estava feliz. Conseguira ir no comboio com ele, sentados a pouco mais que 5 metros de distância. Ele não a olhara. Passara todo o tempo absorto na paisagem que corria lá fora, perdido na música que certamente ouvia no seu IPod. Para ela, ele fora a sua paisagem no exterior e os seus quase inexistentes gestos a sua música. A correr passara o tempo e quando ele se levantou para sair e passou por ela, sentiu o seu cheiro e tocou-lhe levemente no braço. Sentira a vontade de o puxar para si, de o abraçar e de o beijar, mas, abriu os olhos e ele já ia a descer as escadas da estação onde sempre saía.
O dia começava a partir e a noite não se esquecera de chegar. Saiu da água, deixando-a escorrer, formando um rasto à sua passagem. Sentiu cada gota percorrer o seu corpo, desejando que fossem as mãos daquele estranho que tanto a fazia sonhar e desejar.
Secou-se, vestiu-se, e partiu, despedindo-se da sua mãe a água, e de seu pai o salgueiro imponente sobre o lago. Na estrada de regresso as folhas estavam caídas, cansadas de se suporem fadas.
Na manhã seguinte apanharia mais um comboio e voltaria a viajar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Hoje escrevo para ti


Hoje escrevo para ti,
para que me oiças,
para que me escutes.
Para que meus passos ecoem no túnel
que leva à tua alma.
Hoje olho-te nos olhos,
para que me vejas,
e me agarres a mão.
Para que, sem medo,
acendas na escuridão,
a luz da lua espelhada no lago imenso,
intenso,
que é esta vida por navegar.
Hoje, sopro-te ao ouvido,
que desejar-te é tudo o que consigo,
sempre que me perco no teu olhar.