quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O fim de uma década


Que todos os que me acompanham e que eu acompanho, aqui e na vida, estejam cá por muitos e longos anos.
Que os que vierem seja por bem.
Que as estradas sinuosas dêem lugar a rectas a perder de vista.
Que os beijos sejam mais quentes e afectuosos.
Que os abraços sejam mais duradouros.
Que a vida se emancipe em todos nós.
Que a verdade perdure.
Que o amor vença, seja ele de que tipo for.

A todas...

A todos...

...até para o ano.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma gaivota na chuva

O mar atirava-se contra as rochas qual animal ferido e enjaulado a desesperar pela liberdade que o levasse para longe do tormento.
Os céus choravam o amor de Verão, em que as plácidas águas, azul transparente, abraçavam os areais e se perdiam a fazer amor suavemente ao pôr do sol e pela noite fora.
Impávida a tudo isto, uma gaivota, qual rei em seu trono, mirava o horizonte. Parecia perdida em pensamentos, alheia a um mar que se revelava cada vez mais ameaçador. Os animais não são assim tão diferentes de nós. Ou talvez o sejam, para melhor. Perdem-se a olhar o horizonte. Vivem o dia na única certeza que o sol nasce a Este e se põe a Oeste. E todos os dias são uma batalha. Não têm tempo para stress, depressões ou angústias, mas têm tempo para olhar o mar., sentir a chuva nas asas, os que as têm, e ver o sol a beijar as nuvens. Se o compreendem, não sei. Mas o que há para compreender na Natureza?
"A borboleta é apenas borboleta. E a flor é apenas flor." já dizia o mestre Caeiro.
O céu começa a ficar mais carregado e as gotas engrossam, metralhando o chão com violência. Na sua rocha sobranceira ao mar, a gaivota sacode um pouco as asas e volta a perder o olhar no vazio. Já terá por ventura comido, penso para mim.
Ao longe um barco enfrenta a tormenta e o cheiro metálico da tempestade chega-me com o frio de um vento molhado que me bate no rosto. Atrevo-me a fechar os olhos e a deixar a chuva penetrar o cabelo e traçar veredas até se libertar no rosto e morrer-me nos lábios. Sinto ao de leve o seu sabor, o sabor de uma Natureza à qual sinto pertencer, da qual sou mais filho que desta em que me obrigo a viver.
Na Natureza dos homens, os elementos já se perderam e a chuva não sabe ao mesmo. O vento gela e não abraça e as gaivotas não olham o mar, ou, simplesmente, nós já não nos detemos a vê-las olhar o mar.
Abro os olhos e refugio-me no conforto do carro. Ligo o rádio e escuto, baixinho, entrecortado entre a chuva que bate no vidro, o som de Nina Simone, Wild is the wind. Apropriado.



"You...
touch me...
I hear the sound
of mandolins
You...
kiss me...
With your kiss
my life begins
You're spring to me
All things
to me"

Lá fora, a gaivota olha a rebentação. Vejo-a abrir as asas e, aproveitando uma rajada de vento, faz-se ao céu que parece agora menos ameaçador.
Olho no retrovisor, com o seu bater de asas compassado ao ritmo do vento, conforme vai ficando mais pequena, e mais pequena, até se perder por completo no horizonte a gaivota que na chuva olhava o mar.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Carta

Nos relógios residem angústias.
Os ponteiros arrastam-se lentamente e os dias não passam.
É sempre assim quando desejamos muito que chegue algo. Quando queremos ansiosamente que o amanhã seja já hoje. Quando, no fundo, perdemos a capacidade de esperar.
O amor desespera-nos. As horas tornam-se dias e os dias anos quando estamos longe de quem nos faz sentir bem. De quem nos completa e nos faz, verdadeiramente, felizes.
Uma amiga disse-me, uma vez, que os sonhos, as ilusões, não deixam o tampo da sanita levantado. Eu pensei, eu também não, mas no fundo percebi o que ela queria dizer.
Segunda feira, dia 28, faço seis meses de namoro. Um namoro inesperado, surpreendente e que, por isso mesmo, despertou medos, inseguranças, incredulidade e até desconfiança.
Não me parecia real. Não estava já habituado a namorar. Admito que me tinha já, de certa forma, resignado a ir aproveitando as relações fugazes que a vida me ia trazendo. Poderia ter sido assim contigo. Não o foi, porque tu soubeste ser a namorada que eu já não esperava, que eu ainda não sabia existir.
Durante todo este tempo (parecem anos), houve momentos bons, muito bons e outros maus, péssimos, em que quase ia tudo por água abaixo. No entanto, voltaste a saber ser, a saber estar. Poderás dizer-me que também eu o soube, mas, enfrentando a tua assumida teimosia, digo-te, tens sido a minha, a nossa, âncora.
Nestes seis meses não te mostrei a ilusão. Mostrei que, figuradamente, deixo o tampo da sanita levantado. Não sou fácil e tu já o sabes.
Tu és hoje a curva exponencial do meu sentimento, do meu amor e, poderia dizer-te neste momento, que te amo, desafiando o cepticismo de quem me lê e que duvida certamente que se possa amar em apenas seis meses, mas não o vou fazer. Vou continuar a remar, a teu lado, no teu compasso, demonstrando a cada instante aquilo que muitos perguntam ser.

Neste novo ano que se aproxima, não formulo desejos, apenas te dou a certeza de continuar a ser como até aqui e , conhecendo-te, sei que dessa forma vais conceder o desejo que mais espero concretizar, estar a teu lado.

Teu

Menino do Mar

sábado, 26 de dezembro de 2009

Dúvida


Qual é o ingrediente que todos os doces de Natal levam, que nos deixa nostálgicos, pensativos e uns lamechas de primeira?
Mais importante, qual o antídoto?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal


E porque o Natal deve ser Paz, deixo-vos com esta imagem.
Obrigado pelos vossos desejos de Feliz Natal. Fazem eco em mim e repetem-se para vós.


PS: já tá na hora das prendas? :))

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

No vidro das janelas


No vidro das janelas que me separam do exterior, forma-se uma película de micro gotas que, ao mesmo tempo que torna a paisagem quase opaca, se apresenta para mim como uma tela carente do afecto de meus dedos.
Risco de alto abaixo o vidro gelado.
À minha passagem, gotas maiores formam-se e desprendem-se, sulcando as mais pequenas e formando rastos de lágrimas até morrerem na madeira por baixo.
Aproximo o rosto do vidro. Encosto-o na humidade, acariciando a superfície gelada, imaginando-me em ti. Ergo a mão e encosto a palma à barreira invisível, molhada, que afasta o vento e me fecha em mim.
Há sempre uma barreira intransponível. Sempre um vidro molhado que torna o horizonte opaco, frio como o gelo que se adivinha lá fora.
Este frio és tu. Cada vez mais longe, mais diferente, mais ausente.
O vidro molhado sou eu, um mar de lágrimas pronto a soltar-se ao mais pequeno toque.

Lá fora, o mar está bravo e o vento chicoteia a paisagem, mudando dunas e vidas.
Não sei se abra a janela. Não sei mesmo...

"El conejo" rules

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Na porta da minha casa


Tenho um saquinho de veludo que trago sempre comigo. Nele guardo as estrelas tímidas que se escondem do sol durante o dia.
À noite, quando chega a Lua, abro os cordões de pele, e, devagarinho, deixo-as sair uma a uma.
Povoam o céu azul pesado alegremente. Por vezes, descubro uma ou outra adormecida no fundo do saco. Tomo-a nas mãos e, com um leve sopro, embalo-a para o firmamento.
Quando já estão todas nas suas posições, deito-me de costas na relva fresca e fico a vê-las gozarem da companhia da bela mãe Lua, protectora das estrelas.
No momento em que a aurora começa a desbravar o horizonte nocturno, abro novamente o pequenino saco de veludo e ponho-o a meus pés, sobre a relva que me servira há bem pouco tempo de leito.
Uma a uma vão-me sorrindo e saltando para dentro do saco. A última, como sempre, é a estrela da manhã. Tenho que a chamar e prometer-lhe que a deixo ser a primeira a sair na próxima noite.
O sol está a subir no céu e olha-me com um ar zangado, no exacto momento em que puxo os cordões de pele. Sorrio-lhe e vou até casa. São horas de dormir. Mais uma noite que passou.

Na porta da minha casa, tenho o mais belo cinema do mundo. Um universo de estrelas em exibição, noite após noite, só para mim.

Há muito tempo...


... que um filme não me deixava assim.
Boquiaberto
Embevecido
Emocionado
Incapaz de articular uma opinião.

sábado, 12 de dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Desafio Maníaco

A LIA, para além de espalhar doçura por essa blogoesfera fora, resolveu também espalhar este desafio que, com muito gosto, vou responder.

Assim sendo, a tarefa consiste em enumerar cinco manias minhas e passar o desafio a cinco seguidores meus.

1ª mania: Tenho a mania que não tenho manias.

2ª mania: Ao acordar, vir directo à sala e ligar a tv nas notícias da TVI.

3ª mania: Comer primeiro o recheio dos pastéis de nata com a colher com que mexo o café e a massa no final.

4ª mania: Estar constantemente a dizer piadas que, muitas vezes, as pessoas não compreendem.

5ª mania: Dormir agarrado a uma almofada quando estou sozinho.

E pronto, estas são as que me lembro assim mais facilmente, agora é nomear cinco dos meus seguidores:

1- Maçã e canela, porque já chega de pausa!
2- Cereja, porque tem umas manias engraçadas de certeza.
3- Anna, para satisfazer a minha curiosidade, serão as suas manias inconscientes?
4- Hyndra, porque adoro o blog dela
5- Vani, porque sei que lhe vou dar cabo da cabeça ao fazê-la escolher só cinco!!

E pronto, já tá :)

Máscaras


Hoje, sem máscaras, sem artifícios, sem metáforas vou para a rua.
Até logo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Uma paixão

O dia é longo e o chegar a casa prolonga ainda um pouco mais o trabalho. É comer qualquer coisa e gastar as poucas energias em arrumar o que tão facilmente se desarruma.
Depois, é passar os olhos pelos vossos espaços e tentar contrariar o corpo que se molda ao sofá, numa ânsia de adormecer, e deixar mais um pouco de mim para vocês.
Uma noite destas, quase sem me aperceber, apaixonei-me por algo sem o qual já não passo.
Há quase seis meses que tenho o acesso cabo da MEO e este canal, sinceramente, tinha-me passado completamente ao lado. Agora dou por mim a pensar no momento em que vou chegar a casa, ligá-lo e deixar-me embalar pela playlist escolhida por alguém longe, que nunca me viu, nunca me verá, e que no entanto parece saber na perfeição o que eu preciso para esquecer o que me rodeia. O que preciso para me entregar a mim próprio, numa banda sonora que, como dois braços, me embala.

O canal chama-se C-MUSIC, este é o LINK, e sinceramente, do que estão à espera? Posição 152 da MEO.


Hoje amanheceu assim...


... como se o mar se sublimasse, para se abater sobre o areal e o meu corpo, num abraço de névoa, pedaço de mar, pedaço de mim.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tons e sons


Uma sirene ao fundo.
A sala em silêncio.
O sol a fazer-se convidado janela dentro.
Uma vela por arder
um incenso queimado.
O bater de uma alma
em compasso apertado.
A rua vazia.
No vento que corre
uma dança balança
entre um swing e um fado.
A chuva escondeu-se
por detrás do azul
o meu caminho é um mapa
sem norte e sem sul.

domingo, 6 de dezembro de 2009

I've been to...

Inicio hoje uma pequena rubrica aqui na Casa. O intuito é dar-vos a conhecer um pouco mais de mim e, ao mesmo tempo, enganar a falta de inspiração para a escrita que tanto me aflige.

Assim sendo, vou, de vez em quando, publicar fotos de sítios por onde já passei :)
Hoje a contemplada é a bela Budapeste.



Beijos e bom Domingo.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Florbela


Inconstância

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...

Florbela Espanca

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Um assunto medronho


Esta vida de vendedor não é fácil. É entrar num cliente e,

- Vai um medronho? Olhe que é caseiro, é do bom!

Antes, que eu tenha tempo de responder, já o copinho típico está cheio.

A seguir, noutro cliente,

- Então, o que vai?
- Nada, obrigado senhor António.
- Ora essa, vá, uma minizinha não mal nenhum.

Antes de articular qualquer som, já o barulho da carica a sair me silenciou.
Embora nem sempre me sinta mesmo com vontade, a verdade é que a genuinidade do gesto, me desarma completamente, e acabo por aceitar com um sorriso.
Há pessoas que, na sua simplicidade, nos fazem sentir bem. E isto torna os meus dias, sem dúvida, mais admiráveis. :)

Espírito de Natal precisa-se.


Este ano estou desavindo com o espírito natalício.
Eu, que sempre fiquei entusiasmado com esta época do ano, com a música, os cachecóis, as luzinhas e decorações, este ano parece que não sinto nada :(

Espiríto de Natal precisa-se.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

No céu nascem as nuvens


O céu azul do feriado convida ao sonho.
As ruas estão vazias de barulho, vazias de almas. Só eu e uma pequena brisa ousamos incomodar a quietude de um dia ausente.
Aqui e ali, quais carneirinhos celestes, as nuvens brancas dão colorido e pedem-me um sorriso, que concedo. Sou uma alma bem mandada. Reajo sempre ao que a vida provoca em mim.
O sol imperial não consegue disfarçar uma Lua que no céu se esconde à transparência, na sua fase mais admirável. Aquela em que desperta os desejos e faz nascer crianças e amor pelo mundo fora. Sim, a lua está cheia, e nem a claridade invulgar de um dia de Outono a faz desaparecer.
De uma ou outra pastelaria, em que alguém ousou desafiar a preguiça, vem o cheiro de pão e croissants acabados de sair do forno. É um cheiro que quase alimenta, quase se mastiga e nos faz transpôr a porta e procurar satisfazer um ou outro desejo, dando voz ao mais doce dos pecados, a gula.
A sala está quente, não demasiado, o suficiente para me sentir confortável. O cheiro que me despertara o desejo, mistura-se agora com o do café acabado de moer, o da bica acabada de tirar e que, na chávena escaldante, atrai como um bálsamo da vida.
A cafeína acorda meio mundo, faz girar a maioria das sociedades ditas desenvolvidas, e eu, que quero parecer desenvolvido, peço um café e um pastel de nata e sento-me na mesa do canto, onde posso observar as gentes e as nuvens que brincam no céu, formando imagens só perceptíveis aos mais criativos.
A rapariga que me serviu, já a conheço. É a Cristina sem sonhos. Deixou-se perder pelo caminho e quando quis encontra-se, tinha dois filhos e nenhum marido. Acabou por se deixar ficar e ir dando um passo de cada vez.
Triste esta sociedade que estrangula os nosso sonhos.
Abro o Molenskine, destapo a caneta, e começo o meu dia a escrever frases soltas, entre golos de café e pequenas dentadas de pastel de nata.
Na maioria dos meus dias, não me sinto feliz. Não suporto esse estrangulamento a que estou votado e deixo-me dominar por uma tristeza intrínseca, inapelável e sobretudo inexplicável.
A perspectiva faz-me mudar muito o que sinto. Por vezes, basta um pensamento mais alegre para me deixar bem disposto e feliz e a verdade é que hoje, nesta pastelaria da esquina, entre um café e um pastel de nata, penso, o que mais preciso eu?
Sim, hoje estou feliz.

Bom feriado a todas.