segunda-feira, 31 de maio de 2010

Poema solto na tarde quente

A solidão
é a areia que se prende ao corpo que renasceu
nas praias onde o Verão se esquece
que o amor não é eterno.

A saudade é a linha traçada
de um poema incompleto,
derramada numa folha de árvore
arrependida em papel.

O segredo vive na esperança
desregrada, transpirante,
da dança esquecida
num céu cruzado de aves migrantes.

O véu que te encerra,
esvoaça ao vento
não tem rumo
não tem tempo.

sábado, 29 de maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

I'd do anything for love...



"Anything for love
Oh, I would do anything for love
I would do anything for love, but I won't do that
No, I won't do that

Some days it don't come easy
Some days it don't come hard
Some days it don't come at all, and these are the days that never end
Some nights you're breathing fire
Some nights you're carved in ice
Some nights you're like nothing I've ever seen before or will again

Maybe I'm crazy, but it's crazy and it's true
I know you can save me, no-one else can save me now but you

As long as the planets are turning
As long as the stars are burning
As long dreams are coming true
You'd better believe it, that I would do

Anything for love
And I'l be there until the final act
I would do anything for love, and I'll take a vow and seal a pact
But I'll never forgive myself if we don't go all the way, tonight
I would do anything for love
Oh, I would do anything for love
Oh, I would do anything for love, but I won't do that
No, I won't do that"

terça-feira, 18 de maio de 2010

Anúncio de um regresso.

Meus queridos e minhas queridas, quero informar-vos que importei para esta conta do Google um blog que tinha terminado há cerca de um ano atrás. Trata-se de um pequeno conto que infelizmente deixei a meio mas que com o vosso carinho e opiniões acredito que é desta que o vou terminar. Peço-vos então, a quem ainda não conhece, que dê uma vista de olhos pelos capítulos já escritos e publicados e que me dê a sua opinião. A quem já conhece, peço desculpa pela demora :)

Para acederem cliquem AQUI.

PS: Sugiro que, através do arquivo, peguem a história do início e vão seguindo os capítulos (o primeiro e o segundo estão trocados, não sei bem porquê, mas acedam pelo título).

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A crise

Após passar uns dias praticamente alheado do mundo, não tendo sequer tempo de festejar convenientemente a vitória do nosso Benfica, nem a visita do Papa Joseph "Rezinga", vejo-me forçado a comentar a recentes medidas de austeridade que, ao que tudo indicada, nos vão cair em cima forte e feio.
Não quero contudo alongar-me demasiado, nem perder-me em explicações monótonas de porque é que no meu entender se tratam de medidas erradas e pouco justas. Quero simplesmente dizer que o mal está na raiz. E a raiz não é de hoje, tem séculos. Começou como uma pequena semente no início do século XIX, altura em que foi criada a primeira constituição portuguesa que, por seu lado, veio dar origem a um governo de monarquia constitucional que abriu portas ao surgimento de um grupo, inicialmente pequeno, os políticos.
Ora, desde esta altura que o país é deles. Não fomos nunca um poder do povo (conotações marxistas à parte). Não o fomos na monarquia absolutista, nem na constitucional, nem na primeira república, ditadura, democracia... Não somos, nunca o fomos. Somos seguidores de vontades deste grupo de interesses que servem os seus próprios interesses.
O vislumbre que o 25 de Abril proporcionou, não o aproveitámos. Os que antes diziam "isto é meu" e metiam ao bolso, foram substituídos pelos que diziam "isto é nosso" mas continuavam a meter ao bolso. O pós 25 de Abril foi mais do mesmo. Os ricos a serem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Como dizia um filósofo francês cujo nome não me recordo, A ditadura diz "cala-te", a democracia "bem podes falar".
Este é, provavelmente o texto mais revoltado que alguma vez escrevi, mas não consigo calar a minha indignação. Estas medidas de austeridade vão cair directamente em cima de nós que já é quem mais paga pela crise. Pagamos no dia a dia, no sofrimento, na luta, no resignar a más condições de trabalho porque se nós não o fizermos, ouvimos logo um "há quem não se importe de fazer".
Não vejo solução para isto, nem tão pouco soluções para reduzir o défice, no entanto, acredito que estaríamos mais perto da solução se surgisse alguém mais humano, verdadeiramente preocupado com os destinos do país, bem como com o bem-estar das pessoas. Alguém que compreendesse que a justiça social aumenta a produtividade. Cidadão feliz e satisfeito, que sinta que os mais ricos pagam mais e os pobres menos, que cada um, sem excepção, paga a sua parte, e que veja para onde vai a sua parte, que sinta que vale a pena o sacrifício, e veja no seu dia a dia a aplicação dos seus impostos, é um cidadão mais solidário.
Com toda a certeza que não estaríamos todos felizes, mas seríamos uma sociedade mais justa, mais solidária, e isso dar-nos-ia a coesão de necessária para fazer face às adversidades. Uma sociedade deve ser uma família e esta onde vivemos não o é. Somos apenas um rebanho de ovelhas desgarradas, tentando cada uma sobreviver por si.
Como já dizia o Eça, "os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e ambos pela mesma razão".

terça-feira, 4 de maio de 2010

Depois do almoço

- É depois de almoço e apetece-me despir-te.
- Aqui? 'Tás louco!
- Talvez esteja...

A rua afunilava numa viela esquecida por todos excepto por um ou dois gatos que a haviam tomado como seu território. Ao fundo, uma árvore enorme tornava o pequeno espaço entre paredes ainda mais sombrio e tentador. O pequeno banco à sua sombra, como se de um trono se tratasse, chamava por mim e por ela, como que querendo que fossemos senhores de uma terra de paixão, fogo e prazer.
Li-lhe nos olhos o medo que atava o desejo. Os seus lábios entreabertos, a respiração ofegante mas suave, que tentava a todo o custo disfarçar, as faces ligeiramente ruborizadas, eram a foto de uma mulher sedenta das minhas sugestões. Eu tentava controlar o desejo, mas só ouvia o banco à sombra do velho plátano, escondido de tudo e de todos, chamar por mim, chamar por nós.

- Já estou atrasada. Tenho de ir.

Nisto levanta-se sem me dar tempo de a agarrar. Sei o medo que tinha das minhas mãos, daquilo que lhe provocavam à flor da pele. Pôs o dedo nos lábios e pediu-me silêncio.

- Não digas nada. É nos teus olhos que faço amor, aqui nesta esplanada, dia após dia, sempre depois de almoço. Não quero mais, não podemos ter mais. Não somos certos um para o outro.

Sem proferir sequer um adeus, deixei-a perder-se pelas escadas do metro abaixo, primeiro todo o corpo, depois meio, ombros, cabeça e, finalmente, o cabelo, que me sabia a flores de jasmim de um jardim à beira-mar.
Era sempre assim a despedida. Ela a pedir-me silêncio e eu a acatar, revolto em sentimentos, preso nas sensações, esquecido de mim.
Levanto-me e desço a rua. A tarde amena embeleza-se com sons de uma ópera que ecoam, imunes ao ruído dos automóveis, na rua que desagua no cais. Tento encontrar caras conhecidas, vozes familiares, algo que me apazigue a dor desta solidão. A rua está tão cheia de vazio.
Não me apetece andar mais. Chamo um táxi, entro, sento-me, ignoro a conversa do taxista que versava algo sobre o governo ou futebol ou gajas e perco-me em pensamentos que me levam, invariavelmente, ao seu cabelo de cheiro a jasmim.
Amanhã voltaria a sentar-me na esplanada depois do almoço à sua espera. Ela viria, ou não. O banco à sombra do plátano, na viela esquecida, podia esperar mais uns tempos até ser trono.