quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nobel da LIteratura 2011

A ÁRVORE E A NUVEM (1962)

Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.

Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.

Tomas Transtromer

domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de Setembro

Toda a gente fala, toda a gente recorda, toda a gente suspira e humedece o olhar ao falar da tragédia do 11 de Setembro. Eu não sou excepção.
Sim, recordo-me onde estava e o que fazia no preciso momento em que fizeram a primeira ligação em directo a Nova Iorque e, principalmente recordo-me do embate, em directo, do segundo avião. Recordo o colapso das torres, recordo as polémicas, as teorias da conspiração, mas, sobretudo, recordo-me do que aconteceu depois.
Dez anos passados, e no local dessa tragédia constrói-se uma torre nova, um memorial, um jardim, algo que não sei bem ainda o que vai ser, ah, e tem algo de liberdade no nome.
Os políticos vão perfilar-se todos hoje, e fazer discursos sentidos. As pessoas vão levar flores, mensagens e chorar pelos seus familiares ou, na falta de tal, pelos seus conterrâneos. As televisões vão transmitir em directo e solicitar aos sempre opiniosos comentadores, que digam o que mudou no mundo em 10 anos.
Eu vou continuar a acreditar que uma vida é sempre uma vida e uma morte é sempre uma morte. Recuso-me a achar que só porque há ligações em directo e fotos e opiniões e políticos chorosos, essas duas mil e tal mortes do dia 11 de Setembro de 2001 valem mais que 1.220.580 mortes violentas devidas à guerra no Iraque (até 2007) ou os milhares de mortos no Afeganistão.
Principalmente revolta-me esta arrogância em que nós ocidentais achamos as nossas vidas superiores às do "terceiro mundo", em que os nossos meios de comunicação social, em vez de potenciarem os valores da igualdade, da solidariedade e da compaixão, se movem por interesses económicos e sectaristas, que nos poluem a mente desta visão ignóbil que o 11 de Setembro foi uma tragédia, mas o facto da grande maioria dos ditadores dos países árabes terem sido apoiados pelos países ocidentais a reprimirem e muitos a dizimarem os seus povos e que as guerras que advieram do atentados às torres gémeas e que provocaram milhões de mortes directas ou indirectas, são justificáveis.

O 11 de Setembro provoca-me uma enorme revolta, uma revolta na alma, e por uma vez que fosse, gostaria que se perguntasse numa rádio, televisão ou portal de internet, não onde eu estava nesse dia, mas onde estava no dia em que um pai saiu em Bagdad para comprar pão no mercado e não voltou mais, vítima de um atentado, ou que perguntassem onde estávamos todos nós, onde estamos todos nós que permitimos estas permanentes violações dos direitos humanos mais fundamentais dia após dia, ano após ano.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Dos teus dedos



Dos teus dedos,
soltam-se remédios
para os meus dias cinzentos.

As tuas letras,
em carreirinhos suaves,
são encostas onde deslizo,
me encontro,
e me compreendo.

Os segredos, desejo-os a medo.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A fonte

Sempre que passava pela rua rente à muralha, sentia-se mais confiante, como se aquelas pedras antigas lhe falassem e a fizessem acreditar que tudo é possível se soubermos deixar o tempo correr.
Na verdade, já tinha desistido de muitos sonhos e adiado outros tantos, mas hoje era um dia diferente e, por isso mesmo, escolhera ir por aquela rua que tanto lhe dizia.
Trauteando baixinho, "somewhere over the rainbow, blue birds fly...", e de sorriso nos lábios, atravessava a cidade que lentamente acordava. A brisa estava fresca e embora o sol já brilhasse alto no céu, ainda se sentia o cheiro da aurora a despontar. São os dias de Setembro, pensou, o mês que tem mais a minha cara.
Aqui e ali cruzavam-se com ela olhares taciturnos, pesados, tristes, próprios de uma segunda feira, que pesa invariavelmente mais na alma que qualquer outro dia da semana.
Distraída, envolta nos seus pensamentos, sorrisos e canções que sempre a acompanhavam, deu por si perto da antiga fonte de mármore, desgastada pelo tempo e pelo uso das gentes. Sentou-se na sua beira, mergulhou as mãos na água fresca e deixou-se ficar um pouco. Passou os dedos molhados pelo rosto e pelo pescoço e deixou as gotas imprevisíveis descerem-lhe pela pele até ao peito. Passou os dedos pelos cabelos e despediu-se da fonte num sorriso. A fonte respondeu-lhe como sempre, num cântico de águas a cair, imemorial como a lua no céu ou o vôo dos pássaros. Ela compreendeu e, continuando a sorrir, seguiu o seu caminho, trauteando as suas canções, envolta nos seus pensamentos, com uma certeza no bolso, hoje era um dia diferente, amanhã seria um novo começo.

sábado, 20 de agosto de 2011

Pequenas felicidades


A minha I. adorou a prenda que lhe trouxe da Escócia.

:)PS: é muito muito parecido com este.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Daqui a uma semana...


Tá quase, tá quase, tá quase, tá quase!!!


PS: Que por lá encontre a inspiração que tanto me tem faltado...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um pouco mais


Fica, só um pouco mais,
como quem não teme,
como quem respira as estrelas,
e navega sem leme.

Abraça-me como um mar revoltado,
como uma luz que fica,
entre o desespero e o cansaço.

Quando o dia se vai,
o teu cheiro fica na minha pele,
e o teu olhar na minha sede.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

The road.


Simples? Nada é simples. Nem para um dos lados nem para o outro.
Um decidiu e assumiu a responsabilidade por tudo o que está para vir e o outro, o outro revolta-se, chora e grita e tenta tudo, sabendo que já nada está nas suas mãos.
Quando o tempo é de partida, o sofrimento existe sempre para ambas as partes. Em igual medida? não sei, mas sei que sofrimento é sofrimento e impossível de comparar. Cada um sente como sente, e cada dor é única.
Nem sempre assim foi, mas acredito hoje que não há boas nem más decisões quando temos que as tomar. Há decisões apenas e só, como uma estrada que decidimos percorrer, sem saber para onde nos leva. Ao chegarmos ao destino, podemos sempre duvidar se terá sido esta a escolha certa, mas a verdade é que somos aquilo que fomos e também o que não fomos. Não ter percorrido o outro caminho também nos moldou.
A tristeza abate-se de qualquer forma. Sei que não foi, não está a ser e não será fácil, mas sinceramente, this is the road I want to walk...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Shadow heals


Shadow heals,
as night falls.
And my soul is a river,
running, as the sea calls.
My arms shiver into the emptiness,
of your absent smile.

So I fly,
with the wind in my hands
and steal the stars of the dark blue sky.

Under the rising moon,
riding through your hair,
I climb over your lips
and sow the stolen stars in your eyes.

Melody Gardot - Baby I'm a Fool

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Se o teu olhar cantasse


Se o teu olhar cantasse,
que música serias quando o quarto se inunda de luz em frestas,
tímidas,
a acordarem os corpos exaustos de amar?

Seria a melodia da cotovia,
ou um canto grave, sofrido,
adormecido ao sabor do mar?

Seria espuma, vento,
ou um simples gemido dos teus dedos na minha pele?

Ao ritmo de uma cama a ranger,
sou uma estrofe no teu olhar,
e rimo-me no teu sorriso.

Quando te canto
e me aporto em teus braços
sou um poeta perdido,
uma pauta vazia em teu regaço.

sábado, 2 de julho de 2011

Espero-te na volta do amor

Espero-te na volta do amor,
quando a chuva parar
e o mar se cansar.

Espero-te enfeitiçado,
gritando contra as amarras.

Olho-te através de um vidro embaciado,
de um dia nublado,
em que partiste na incerteza, sem olhar.

Espero-te como um fruto na árvore,
que se findou na primavera.

E nesta espera, chega o verão,
e sonho acordado
a ilusão que um dia voltarás
e serás de novo a lua do meu céu estrelado.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os meus pés


Os meus pés,
gritam num submerso silêncio,
e são vida sem história,
estrofe sem verso,
são o texto desalinhado na areia da praia.
São as paredes, são muralhas,
onde a chuva bate e escorre, sem deixar nada.

Os meus pés não sabem por onde vão,
nem para onde me levam.
Não nadam nem correm,
não ficam nem partem,
são o inconstante nascer da aurora,
perdidos no tempo,
sem horas.

Quem me dera ter do vento a liberdade,
e correr o mundo na ponta dos dedos,
quem me dera ser um pouco mais verdade
e aprender a verter, a pouco e pouco, os meus medos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Despido

Quem segue só para o espaço,
ou só para o tempo?
Quem segue sem nada
apenas cansaço,
pela estrada que o leva a nenhum lado?

Quem vive e voa sem rumo,
ou atravessa a nado
o rio profundo,
deste para esse lado?

Quem esperas que seja,
se mais não sou que a estrela
que se esconde ao raiar do dia,
não por medo ou tristeza,
mas por ousadia?

Quem chega sem partir,
quando a viagem é longa,
e sem mapa nem mundo,
ou ponto de partida?

Dispo-me de mim,
e desembainho a espada imaginária.
Desafio o mundo num duelo,
e qual herói lendário,
sou rei do meu castelo
sem paredes, nem redes onde me deitar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sou breve


Sou breve como um segredo
dito a medo.
Como um canto de cotovia,
a anunciar o dia.
Como num sorriso escondido
sou breve como a neve.
Esqueço o céu, e foco-me na terra,
sou raio de sol, sou primavera,
sou o degelo de um dia que amanheceu verde.

Faço-me em cada passo que dou,
em cada estrada que percorro
e em cada encruzilhada em que me sento
e espero que o vento me leve a viajar.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Verdade


Faltava pouco mais
que meia hora de eternidade,
a ecoar na minha impaciência.

A Janela bateu com estrondo e estremeceu a alma.

No momento em que a saudade respirou mais forte,
levantando um vento incontrolável,
soprou ventos pela tempestade dos teus olhos,
e aos molhos,
caiu a verdade.

Despida ao luar,
renasceu a alma pura,
como um restolho que olha a vida
que é eterna enquanto dura...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

No negro dos teus olhos


No negro dos teus olhos,
e no espaço que vai dos meus lábios aos teus,
beijo-te sem nunca te ter beijado.
E o meu desejo é o orvalho da madrugada,
que te espera como ao sol do Verão.
No suave ondular do teu cabelo,
perco-me como numa floresta mágica,
e quanto mais corro mais me encontro
e quanto mais quero menos te tenho
e quanto mais te abraço menos te vejo.

Os teus lábios são uma clareira de luz,
onde me deito a sonhar,
e sinto o fresco da relva
enquanto espero que um estrela cadente cruze o meu céu.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Quando me tocas


Quando me tocas
e me olhas,
e me incendeias a pele que se arrepia.
Quando me falas
e te sinto na ponta dos dedos que te anseiam tocar,
ao longo dos braços que te desejam abraçar.
Quando os teus olhos são dois cometas
derramados num céu estrelado,
e o teu cheiro me emudece como um destino traçado,
fecho-me num sorriso
para não te dizer que a Primavera só tem flores quando estás,
para não te contar
que os dias na distância são horas e meses e anos
e breves segundos a teu lado.
Contigo tudo é sentido
e até o mais breve instante se espelha no infinito.

domingo, 20 de março de 2011

Guerra


Sou contra todas as formas de guerra. Não acredito em motivos justificáveis para se invadir um país, seja ele qual for e há muito que deixei de acreditar nestes auto-denominados polícias do mundo, como a ONU, NATO ou aliados pontuais que só se movem por interesses económicos e políticos.
Nunca se conseguirá travar a guerra, o totalitarismo, a morte, com as mesmas armas que ela usa. Violência só tem um poder criador, o de mais violência.
Portanto, não me venham com argumentos de que Khadafi é um ditador que mata o próprio povo, ou que é um foco de instabilidade para a região. Quantos ditadores há neste mundo que não interessam minimamente aos polícias do mundo? E porquê? O motivo é sempre o mesmo, o interesse económico. O vil metal que faz mover o mundo, na minha opinião, em direcção ao abismo.
Enquanto não evoluirmos enquanto seres humanos, enquanto não deixarmos de viver a cobiçar ter sempre mais, enquanto não soubermos ser melhores que isto, haverá sempre Kadhafi's por este mundo fora e a morte, as desigualdades e as tragédias farão sempre parte do nosso dia a dia.

domingo, 13 de março de 2011

Palavras soltas


Recordo o chão que fixava avidamente por ter medo de olhar em frente. O sol ofuscava-me e, não poucas vezes, a estrada, por muito recta que fosse, assemelhava-se a um labirinto enigmático.
Não tinha grandes pretensões de um dia vir a ser grande. Ou talvez as tivesse, só não ousava aceitá-las.
Por insegurança ou apenas por pura cobardia, acho que me acomodei a aceitar o que quer que a maré trouxesse. Nunca me predispus a navegar, nunca ousei procurar o que poderia existir para lá do horizonte. Nunca. Ou melhor, durante muito tempo assim foi.
Olhava para mim e achava-me adulto. Um ser maduro. Que já tinha passado por muito e, que admito, olhava com uma certa desfaçatez para os mais velhos. "São mais velhos mas eu já vivi muito, já vi muito, e sei tanto ou mais que eles", pensava eu na minha inconsciente ignorância.
Hoje estou eu mais velho e, embora me sinta muito jovem, nunca tive tanta consciência de que sei muito pouco. Nunca percebi tão bem que podemos ver, estudar, ler, analisar, mas só percebemos realmente algo quando o vivemos, quando o sentimos na pele, porque simplesmente há coisas que não se explicam e que variam tanto de pessoa para pessoa que dissecá-las num livro, numa conversa ou até numa palestra, seria apenas criar uma ilusão para alimentar almas ávidas de conhecimento mas com muito preguiça de aceitar que para se viver verdadeiramente, para se sentir verdadeiramente, é necessário tempo.
Hoje, tudo tem que ser rápido. E contra mim falo. Muitas vezes, mesmo ciente desta realidade, desejo tudo para ontem. Deixo que esta onda global de fast living me inunde e me impeça de ser aquele ser que profundamente desejo ser.
Acredito mais em mim hoje, que sei que muito pouco sei, do que na altura em que achava ser muito mais do que aquilo que era. É verdade. A consciência da minha vasta ignorância tornou-me uma pessoa mais confiante, mais tolerante, mais generosa.
Gosto muito mais desta pessoa em que me vejo hoje do que aquela em que me via no passado e consciente da minha falibilidade enquanto ser humano espero no fim da vida poder olhar para trás e ver os degraus que subi, um a um e olhar em frente e ver que outros tantos ficaram por subir.

terça-feira, 8 de março de 2011

Geração à rasca


Não podemos continuar de costas voltadas para a realidade.
Chegou a hora de fazermos algo sem ser ao reboque dos partidos e/ou associações.
Porque merecemos um país melhor, um mundo melhor, eu vou lá estar, em Lx a defender aquilo em que acredito.

Protesto Geração à Rasca
(clicar)

sexta-feira, 4 de março de 2011

A minha casa


A minha casa é bela porque tem janelas para o mar
e para as ruas de pessoas apressadas,
e deixa entrar o sol como um amigo que não vemos há anos.

A minha casa é bela e tem alma,
é um castelo numa ilha isolada,
imponente sobre a tempestade.
A minha casa é bela e faz-me imortal,
dá-me as asas do tempo para eu aprender a navegar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

madrugada


Folha de ouro
caída
árvore despida no teu peito.

Rio revolto
assusta
margens que correm esquecidas

O mar espera aberto,
como o abraço desperto
na madrugada esperada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Amor a lápis de cor


Descobri
no fundo da lata da escola,
de mãos
h
e
s
i
t
a
n
t
e
s
transbordando sonhos,

que o teu amor só o podia desenhar
se fosse a pis de cor.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Retrato


Havia folhas soltas quando se passeava pelo entardecer na estrada que levava ao lago. Rodopiando ao vento, dançavam, lembrando pequenas fadas em seu redor, num movimento à primeira vista aleatório mas que a fazia sonhar que os seus pés flutuavam e nas suas costas existiam asas de anjo que a podiam levar onde quer que quisesse ir.
Era sempre assim nos dias em que se sentia feliz. Quer estivesse a chover ou o sol brilhasse num foco ofuscante num céu monocromaticamente azul, saía de casa e dirigia-se ao lago. Era filha daquelas águas serenas, nascida numa noite sem Lua, arrancada abruptamente à harmonia de um salgueiro à beira d'água.
Sempre que lá chegava, sentava-se e despia-se. Toda nua entrava na água e deixava-se flutuar, sentido nas costas o mundo de onde viera, sentindo na frente o mundo onde tinha que viver.
Fechava os olhos e voava como as folhas que rodopiavam em seu redor a caminho daquela paz.
Recordava o seu dia, e hoje estava feliz. Conseguira ir no comboio com ele, sentados a pouco mais que 5 metros de distância. Ele não a olhara. Passara todo o tempo absorto na paisagem que corria lá fora, perdido na música que certamente ouvia no seu IPod. Para ela, ele fora a sua paisagem no exterior e os seus quase inexistentes gestos a sua música. A correr passara o tempo e quando ele se levantou para sair e passou por ela, sentiu o seu cheiro e tocou-lhe levemente no braço. Sentira a vontade de o puxar para si, de o abraçar e de o beijar, mas, abriu os olhos e ele já ia a descer as escadas da estação onde sempre saía.
O dia começava a partir e a noite não se esquecera de chegar. Saiu da água, deixando-a escorrer, formando um rasto à sua passagem. Sentiu cada gota percorrer o seu corpo, desejando que fossem as mãos daquele estranho que tanto a fazia sonhar e desejar.
Secou-se, vestiu-se, e partiu, despedindo-se da sua mãe a água, e de seu pai o salgueiro imponente sobre o lago. Na estrada de regresso as folhas estavam caídas, cansadas de se suporem fadas.
Na manhã seguinte apanharia mais um comboio e voltaria a viajar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Hoje escrevo para ti


Hoje escrevo para ti,
para que me oiças,
para que me escutes.
Para que meus passos ecoem no túnel
que leva à tua alma.
Hoje olho-te nos olhos,
para que me vejas,
e me agarres a mão.
Para que, sem medo,
acendas na escuridão,
a luz da lua espelhada no lago imenso,
intenso,
que é esta vida por navegar.
Hoje, sopro-te ao ouvido,
que desejar-te é tudo o que consigo,
sempre que me perco no teu olhar.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Amor demorado


Eu não sei se crescias de noite ou de dia,
mas era por ti que esperava deitado ao luar.
Como se o vazio me alimentasse,
esperava parado, sentado,
pela água do rio que já tinha passado.

Eu não sei se era a tua voz que cantava,
ecoando pelas ruas despidas nas noites frias,
mas era o teu sorriso que nos vales se despia,
envolto em bruma e em sol a nascer.
Eu não sei se é mágoa que me enche a alma,
ou um amor carente de prazer.
Só sei que há mundos escondidos,
em cada frase que digo ao acordar,
em cada olhar que deito ao longe,
em cada vaga que relembra o mar,
em cada destino que me espera,
e me leva a desejar
estar contigo nesta cama
neste mundo, que é meu para te dar.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O tempo


Pelo mar e pelas praias

pelas dunas e terra adentro

desço a rua como desço a vida,

porta a porta,

esquina a esquina,

degrau a degrau.

As ruas, agora, são vielas

escuras, sombrias,

onde não há noites nem dias,

nem corrimão para me agarrar.

O tempo leva-o o vento,

e nos bancos onde me sento,

assaltam-me as memórias das antigas vitórias.

O espaço é imenso,

apertado num peito sem nexo.

Tudo à minha volta é movimento,

e a chuva que cai agora e me encharca a alma,

é mesma em que nasci,

vivi,

e viajei neste infindável tormento

que é nascer no infinito e perder, pouca a pouco, a chama.

Quando te despias

Quando te despias havia sempre um aroma a canela pelo ar. Como se uma brisa se tivesse soltado de um mundo perdido e serpenteando por montes e vales chegasse até mim e agora me beijasse suavemente, enquanto tu, um a um, desabotoavas os botões da camisa e me revelavas os seios que gritavam por mim.
A camisa branca, pura como um algodoeiro, entreaberta, deixava descobrir apenas uma língua de pele, desde o pescoço ao umbigo e luz que resvalava da janela, delineava o contorno das tuas ancas escondidas no tecido inerte.
As minhas mãos sentiam-se em casa sempre que deslizavam em ti, numa descoberta sempre original, num ritmo sempre único, numa dança sempre desejada.
Quando sorriamos, ofegantes, sabiamos sempre que mais que amor, o que sentiamos era uma verdade absoluta.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

32


O fim do 31. Que venham muitos mais, e se possível, melhores ainda.
A amizade não se agradece, por isso não vou dizer obrigado a quem faz da minha vida algo um pouco melhor a cada dia que passa, mas sim dar graças por ter amigos que são mais que amigos, que são já parte da família.
:)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O invisível e o incontável


Serenamente,
avagando como que chegando ao porto,
como que temendo a partida.
Atraso o olhar,
arrasto o beijo,
abraçando-te sem medida.
É nas amarras que me perco,
é nas correntes que me coso.
É na incerteza que eu vejo,
o invisível e o incontável.
É nas palavras que me alongo,
me estendo, e me fermento em mosto,
em vinho no teu copo espremido,
à espera dos teus lábios
à espera do um sentido.

A sad sad goodbye....

sábado, 1 de janeiro de 2011

9 da manhã


Nove da manhã. Primeiro dia do ano. A casa está silenciosa e quieta. Lá fora a rua imita-a e apenas o sol se atreve a reinar, espelhando-se no alcatrão molhado da humidade da noite.
Dentro de mim, um silêncio ainda maior que o deste dia em que todos se demoram mais um pouco.
Eu não o consegui fazer. Tinha que me levantar e tentar sentir algo.
As palavras ecoam como facas no meu peito, nos meus gestos. Sinto o olhar trémulo e os lábios inquietos. O que fazer? Como começar mais esta etapa?
Na verdade poderia não fazer nada, mas não sei continuar assim.
Precisava de desabafar. A gata olha-me com o desdém reconfortante próprio dos felinos. Não tinha ninguém, não tenho ninguém, vim aqui. Acho que vou voltar. É imensa a falta que me faz escrever.
Estou triste, tenho que avançar, tenho que decidir, tenho que fazer. Haverá lágrimas, sei que sim. Mas tem que ser.
Dói-me o peito. Dói-me a alma. Dói-me qualquer gesto que faça. Dói-me o tempo, pesa-me este viver.
Dia 1 de Janeiro, dia mundial da paz, e eu, eu sinto-me em guerra.