domingo, 22 de agosto de 2010

Paraíso

Paraíso

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão Ferreira

Tough Times Uptown - Lonette McKee - Ill Wind

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Soneto à beira-mar

Meu peito é como as ondas do mar,
como um vale escondido repleto de verde,
ou uma fonte esquecida que morre de sede.
Meu peito é um silêncio a borbulhar.

Meus braços são dois troncos despidos,
dois campos ondulantes de trigo dourado.
São uma guitarra que geme sem fado,
dois tesouros em busca de quem os ache perdidos.

Ao longe um veleiro cruza o horizonte.
Na ilha em que habito não há sombra,
apenas um castelo de areia com o mar defronte.

No teu peito navego, no teu peito me encontro,
mas nesta alma despida que o vazio assombra,
há uma rosa vermelha, onde vivo, onde me escondo.

domingo, 1 de agosto de 2010

Férias

De que são feitas as minhas memórias?

De campos de trigos e azinheiras sós.

Esta semana vou recordar tudo isso.