domingo, 23 de janeiro de 2011

O tempo


Pelo mar e pelas praias

pelas dunas e terra adentro

desço a rua como desço a vida,

porta a porta,

esquina a esquina,

degrau a degrau.

As ruas, agora, são vielas

escuras, sombrias,

onde não há noites nem dias,

nem corrimão para me agarrar.

O tempo leva-o o vento,

e nos bancos onde me sento,

assaltam-me as memórias das antigas vitórias.

O espaço é imenso,

apertado num peito sem nexo.

Tudo à minha volta é movimento,

e a chuva que cai agora e me encharca a alma,

é mesma em que nasci,

vivi,

e viajei neste infindável tormento

que é nascer no infinito e perder, pouca a pouco, a chama.

2 comentários:

Roxanne disse...

perder a chama é que não pode ser.
usa o vento e as recordações para te darem força!

Anna disse...

Boa parte das mais belas cidades compõe-se de um emaranhado de becos e vielas desordenados, escuros, sinuosos... que quase sempre desembocam numa ampla e luminosa praça, namorada por pombos esvoaçantes, admirada por turistas admirados, encarnada por testemunhos de momentos (bons e maus).
O movimento, o percurso, a ventania, o caminhar para além das vitórias passadas... a linha da vida, portanto!
Que recordemos momentos passados não sem um toque de nostalgia pela impossibilidade da sua imortalização, sim. Agora que os deixemos tomar as rédeas e vedar o caminho a novos momentos, isso não!

Um poema de ritmo lento, de tons cinzentos, de aura triste... e no entanto simples e belo...