domingo, 28 de junho de 2009

Eu...

A linha do comboio atravessa o areal, conjugando o sentimento de espera na praia.
Como um verbo solto, livre pelo ar, o sentimento na sua forma mais que perfeita é a espera na certeza destas paredes.
Na areia esperam-se os barcos, as miragens, as garrafas de mensagens enigmáticas, as pessoas que por uma razão ou outra naufragaram numa vida e dão à costa junto a mim.
Na linha, de ferros abraçados a madeira de aroma intenso, vive também um eterno aguardar. O aguardar também de gentes errantes, de mensagens de malaposta, de segredos desvendados na chegada de quem muitas vezes não chegou a partir.
Na casa vive-se à espera. Eu, vivo à espera.
Num romantismo para além do saudável, vivo entre dois mundos e sinto que um deles tem que vencer. Um deles, já está a vencer.
Dilui-se a realidade dentro de mim. Perde-se o pensamento num poço de sentimentos em que temo acabar por me afogar.
Mas eu, eu sou de poços e de praias desertas. Nunca fui de cascatas ou mares altos.
Sou eu, sou assim, como um linha de comboio em que é impossível ver o fim, como uma praia vazia, um areal imenso.
Eu não sou comboio. Não sou barco. Sou caminho de ferro, sou porto de abrigo.

6 comentários:

Eli disse...

O enigmático caminho desdobra-se em muitas gentes e sorrisos...

:)

Anônimo disse...

Gostei...também me define, infelizmente. Tal como dizes, também estou "à espera", mas num alpendre à sombra, deitada numa rede, baloiçando ao sabor do vento que me bate na cara e me recorda que...esperar não será a melhor forma.
vou voltar!

Mary

Pipoca dos Saltos Altos disse...

"Na linha, de ferros abraçados a madeira de aroma intenso, vive também um eterno aguardar. O aguardar também de gentes errantes, de mensagens de malaposta, de segredos desvendados na chegada de quem muitas vezes não chegou a partir". Lindo...simplesmente lindo.
Há esperas que matam, há esperas que roubam ilusões e nos atiram para o meio do chão...mas acredito que algumas esperas ainda valham a pena.
Beijo

Katty disse...

Agora és de poços e praias desertas mas só o és enquanto quiseres, tudo e todos podem mudar. Digo isto porque noto um certa insatisfação com aquilo que dizes ser. É como se quisesses ser outra coisa, algo que tu consideras mais do que aquilo que és mas não consegues; ou achas que não consegues ser. Neste caso dás a entender que queres ser de cascatas ou de mares altos mas simplesmente te conformas de forma inconformada com o ser de uma praia deserta. Quando digo "conformas de forma inconformada" quero dizer que apesar do aparente conformismo não te sentes bem nessa pele. No fundo queres mais so que te deixas levar pelo conformismo, pela apatia em vez de lutares por aquilo que querias ser.
A vida não é eterna temos de a aproveitar ao maximo e não me parece que a queiras passar sendo de poços.

Tana disse...

És assim...és como és! :)
Gostei imenso deste post, não tem a simplicidade do anterior, mas tem a simplicidade suficiente para me trazer alguns sentimentos ao de cima :)
Os sentimentos ficam bonitos à flor-da-pele :) ihihi

Beijos*

sonhos/pesadelos disse...

podemos ser tantas coisas em diferentes alturas,consoante os momentos,pensamentos e acontecimentos.está lindo...
bjs endiabrados