O mar atirava-se contra as rochas qual animal ferido e enjaulado a desesperar pela liberdade que o levasse para longe do tormento.
Os céus choravam o amor de Verão, em que as plácidas águas, azul transparente, abraçavam os areais e se perdiam a fazer amor suavemente ao pôr do sol e pela noite fora.
Impávida a tudo isto, uma gaivota, qual rei em seu trono, mirava o horizonte. Parecia perdida em pensamentos, alheia a um mar que se revelava cada vez mais ameaçador. Os animais não são assim tão diferentes de nós. Ou talvez o sejam, para melhor. Perdem-se a olhar o horizonte. Vivem o dia na única certeza que o sol nasce a Este e se põe a Oeste. E todos os dias são uma batalha. Não têm tempo para stress, depressões ou angústias, mas têm tempo para olhar o mar., sentir a chuva nas asas, os que as têm, e ver o sol a beijar as nuvens. Se o compreendem, não sei. Mas o que há para compreender na Natureza?
"A borboleta é apenas borboleta. E a flor é apenas flor." já dizia o mestre Caeiro.
O céu começa a ficar mais carregado e as gotas engrossam, metralhando o chão com violência. Na sua rocha sobranceira ao mar, a gaivota sacode um pouco as asas e volta a perder o olhar no vazio. Já terá por ventura comido, penso para mim.
Ao longe um barco enfrenta a tormenta e o cheiro metálico da tempestade chega-me com o frio de um vento molhado que me bate no rosto. Atrevo-me a fechar os olhos e a deixar a chuva penetrar o cabelo e traçar veredas até se libertar no rosto e morrer-me nos lábios. Sinto ao de leve o seu sabor, o sabor de uma Natureza à qual sinto pertencer, da qual sou mais filho que desta em que me obrigo a viver.
Na Natureza dos homens, os elementos já se perderam e a chuva não sabe ao mesmo. O vento gela e não abraça e as gaivotas não olham o mar, ou, simplesmente, nós já não nos detemos a vê-las olhar o mar.
Abro os olhos e refugio-me no conforto do carro. Ligo o rádio e escuto, baixinho, entrecortado entre a chuva que bate no vidro, o som de Nina Simone, Wild is the wind. Apropriado.
Os céus choravam o amor de Verão, em que as plácidas águas, azul transparente, abraçavam os areais e se perdiam a fazer amor suavemente ao pôr do sol e pela noite fora.
Impávida a tudo isto, uma gaivota, qual rei em seu trono, mirava o horizonte. Parecia perdida em pensamentos, alheia a um mar que se revelava cada vez mais ameaçador. Os animais não são assim tão diferentes de nós. Ou talvez o sejam, para melhor. Perdem-se a olhar o horizonte. Vivem o dia na única certeza que o sol nasce a Este e se põe a Oeste. E todos os dias são uma batalha. Não têm tempo para stress, depressões ou angústias, mas têm tempo para olhar o mar., sentir a chuva nas asas, os que as têm, e ver o sol a beijar as nuvens. Se o compreendem, não sei. Mas o que há para compreender na Natureza?
"A borboleta é apenas borboleta. E a flor é apenas flor." já dizia o mestre Caeiro.
O céu começa a ficar mais carregado e as gotas engrossam, metralhando o chão com violência. Na sua rocha sobranceira ao mar, a gaivota sacode um pouco as asas e volta a perder o olhar no vazio. Já terá por ventura comido, penso para mim.
Ao longe um barco enfrenta a tormenta e o cheiro metálico da tempestade chega-me com o frio de um vento molhado que me bate no rosto. Atrevo-me a fechar os olhos e a deixar a chuva penetrar o cabelo e traçar veredas até se libertar no rosto e morrer-me nos lábios. Sinto ao de leve o seu sabor, o sabor de uma Natureza à qual sinto pertencer, da qual sou mais filho que desta em que me obrigo a viver.
Na Natureza dos homens, os elementos já se perderam e a chuva não sabe ao mesmo. O vento gela e não abraça e as gaivotas não olham o mar, ou, simplesmente, nós já não nos detemos a vê-las olhar o mar.
Abro os olhos e refugio-me no conforto do carro. Ligo o rádio e escuto, baixinho, entrecortado entre a chuva que bate no vidro, o som de Nina Simone, Wild is the wind. Apropriado.
"You...
touch me...
I hear the sound
of mandolins
You...
kiss me...
With your kiss
my life begins
You're spring to me
All things
to me"
Lá fora, a gaivota olha a rebentação. Vejo-a abrir as asas e, aproveitando uma rajada de vento, faz-se ao céu que parece agora menos ameaçador.
Olho no retrovisor, com o seu bater de asas compassado ao ritmo do vento, conforme vai ficando mais pequena, e mais pequena, até se perder por completo no horizonte a gaivota que na chuva olhava o mar.
Olho no retrovisor, com o seu bater de asas compassado ao ritmo do vento, conforme vai ficando mais pequena, e mais pequena, até se perder por completo no horizonte a gaivota que na chuva olhava o mar.
9 comentários:
Que lindo texto!! Beijinho
Voa, Fernão, Voa!
Gosto tanto da forma como os elementos da Natureza te fazem sair da realidade e divagar na tua mente! Fascina-me sempre a forma como te deténs perante um pormenor prosaico à vista da maioria e constróis todo um quadro de reflexão puro e quase inconsciente! Encanta-me o fluir das palavras nas tuas mãos, na tua mente!
A pureza desses seres da Natureza? Não sei se alguma vez a tivemos verdadeiramente. Ou melhor, se a temos, não a sentimos nem vemos. Mas estará lá talvez: até porque tu, por exemplo, também paraste a olhar a gaivota, também te alheaste dos males e problemas da vida nesta Natureza anti-natura, partilhada por muitos de nós, e paraste para simplesmente contemplar.
Se nas penas dessa gaivota se formaram pérolas brilhantes a partir da violenta chuva, também na tua pele elas deverão ter cintilado por instantes, antes de fugir...
Outro texto fascinante!
Amor, que texto tão lindo com que nos brindas no final deste dia... Um dia tão especial para mim, para nós.
Repito imensas vezes que a cada dia que passa escreves melhor. E é a mais pura das verdades.
Adorei o texto. É lindo. Mais uma vez transportaste-me no espaço e no tempo para o cenário do conto. Consegui ver a gaivota nas rochas a olhar o mar, com todo o cenário envolvente...quase pude sentir o cheiro da chuva e do sal no ar.
Revi-te em cada palavra, em cada parte do texto que reflecte os teus gostos.
E sabes, gosto de ser uma pessoa em contacto com a Natureza... Gosto de dar por mim a ficar absorvida pelas coisas mais simples da vida... Porque o mundo dos Homens não pode ser só coisas más. Há que saber parar e contemplar o que a Natureza tem de melhor.
A música de fundo não podia ser mais apropriada qual banda sonora do filme que passa diante dos meus olhos...
É perfeito. Ou quase, porque, como costumas dizer, há sempre algo que pode ser melhorado.
E, por mais que digas que não pode ser verdade, vais ser sempre o meu escritor preferido :)
Ah, e a frase do mestre Caeiro...sublime! ;)
Adoro-te.
Tua
Flor
quase que senti a maresia... quase que me arrepiei de frio e me encolhi a observar o mar!
As tuas palavras têm mesmo o poder de nos transportar para os cenários que descreves!
Gostei do teu olhar!
Do som sensual do selvagem vento que flui dos bandolins no acompanhar do voo da gaivota!
FELIZ 2010, Menino do Mar
O mar bravo, a chuva forte, o vento gelado... só a natureza para nos trazer beleza até com coisas que aparentemente são as suas piores coisas quando estamos no mundo humano. Mas nela, tudo soa a poesia. E felizes de nós que nos conseguimos emaranhar nela, pensá-la, senti-la, como ela é: a coisa mais maravilhosa.
E penso que a arte da escrita está em passar essas mesmas sensações para o leitor, fazê-lo imaginar e sentir-se no cenário, como aconteceu com a Sakura e, acho, com todos nós. Belo texto :)
Beautiful. :-)
kiss
Adorei, Adorei.
Estou sem palavras, mesmo que as tivesse não seria nada comparadas com as tuas.*
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