sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Vento


O vento abraçou-a e sussurrou-lhe ao ouvido.
A aurora abria caminho a leste e estava quase na hora da despedida. O silêncio, fiel amigo das madrugadas em claro dos dois amantes, parecia mais impaciente que o costume.
O desassossego domina os olhares.

- Abraça-me, agarra-me, faz-me teu. Pede o vento num misto de súplica e ordem.
- Mas és vento, volátil, inquieto. Precisas de liberdade. Por mais que te queira agarrar, nunca o poderia fazer. Vento... eu nem te vejo, nem te toco, só te sinto.
- Mas eu também só te sinto, quando te envolvo e te resvalo na pele quente de prazer. Toda a nossa relação é sentimento, e só assim se pode realmente agarrar alguém, amando e sendo amado.
- Abraça-me mais uma vez vento quente que não tenho, mas que sinto em todo o meu corpo...

O vento rodopia sobre a prata, envolve-a no seu ímpeto, acaricia-lhe o rosto com uma brisa, e seca as lágrimas que lhe rolam pela face.
O silêncio acorda-os desta dança. A aurora chegou e com ela o sol espreita no horizonte.

- Adeus meu brilho.
- Adeus meu amante fiel.

Põe-se a noite, nasce o dia, o vento cala-se e num céu já sem estrelas, o orvalho cai, gota a gota do verde das árvores, como se a natureza chorasse o fim de um amor.

3 comentários:

sakura disse...

Mais um texto lindo, como só tu sabes escrever.
Cheio de sentimento, de imagens lindas que me transportam para um lugar especial.

Beijo imenso,
Flor

Elena disse...

lindo, muito sentimento! beijinho

Anônimo disse...

Acho que você pensava em Sakura quando o escreveu :-)

Beijos!