domingo, 30 de agosto de 2009

Ghibli (continuação)

Quando a aurora ameaçava romper, dirigia-se até ao farol e ficava a contemplar o mar. O que ficaria do outro lado?
O vermelho e o laranja venciam a pouco e pouco a escuridão de mais uma noite de sombras no coração de Ghibli.
A culpa, essa, deitava-a no mar e esperava que não voltasse, que as ondas a levassem para o profundo azul e que lá a deixassem para não mais voltar.
Amar mulheres desconhecidas a meio da noite, entrando impunemente nos seus quartos, quando a vigília está ausente e a realidade se confunde com o sonho, não era algo de que a sua alma se orgulhasse. Mas ele tinha que a encontrar, tinha que a ter mais uma vez!
No entanto, ao romper desta aurora, sentia-se diferente.
A descrença e a dúvida tinham-se instalado no seu coração de forma dominadora, não dando já espaço sequer ao querer.
Por momentos acreditou que ela se aproximava dele, nas suas costas viradas ao nascer do sol e arrepiou-se, estremeceu e virou-se, na ânsia da sua busca ter finalmente terminado. Mas o que encontrou foi o mesmo de todas as noites desde que ela partira, um vazio imenso.
Retirou-se cabisbaixo, furioso e irado renegou ao seu pai, espírito de vento, amaldiçoou sua mãe, a fada que morrera para que ele pudesse viver e mergulhou, já na cidade, no submundo de artérias que tantas vezes ignoramos sob os nossos pés alheados do dia a dia.
Enclausurou-se no seu casulo e, com o cheiro nauseabundo que o rodeava e a rosa seca que ela lhe devolvera quando partira, nas mãos, adormeceu quando os primeiros carros começavam a amanhecer nas ruas da cidade que de noite eram suas.

(continua)

2 comentários:

Ana disse...

Olha lá...e o outro conto?...não o terminaste, acho eu...não leio este enquanto não terminares o outro! :-p

DIABINHOSFORA disse...

Fico à espera do segundo episódio...:)