domingo, 9 de agosto de 2009

Ghibli

Movia-se nas sombras que a noite formava nas paredes da cidade adormecida.
De dia, escondia-se nos túneis que outrora serviam de refúgio à população aquando de invasões e outros perigos. Por vezes, descobria uma obra de metro inacabada e tomava-a também como sua casa, sua fortaleza, até que a Lua surgisse de novo no céu e voltasse à sua busca, à sua interminável busca pela alma que perdera.
As lendas que contavam, diziam que era filho de um vento quente, do norte de África, o siroco, e de uma fada das tempestades que vivia na montanha que tentava impedi-lo de entrar continente dentro. Nascera numa noite sem lua, num cruzamento de quatro estradas, num ano capicua. Uma velha que passava, ao ver a fada moribunda, abandonada pelo vento, ostracizada pelos elfos, balbuciando Ghibli, tomara-o nos braços e criara-o longe do mundo, num bosque encantado.
Crescera entre criaturas da floresta e brincara com lobos e corujas. Era, à primeira vista um homem normal. O seu exterior ocultava as forças que nem sabia ainda ter, pois Ghibli era um filho dos elementos, um ser meio homem, meio espírito.
A velha que o criara, morrera numa manhã serena de Primavera. Não vertera uma lágrima por ela porque os espíritos nunca morrem e ela era, a partir desse momento, parte dele, do seu espírito, do seu ser.
Sem nada que o prendesse, partiu. Havia alguns anos atrás, tomado pela curiosidade, tinha seguido os barulhos que o despertaram. Uns roncos metálicos, primeiro mais longe, depois mais perto, numa cadência de aproximação que não o assustara. Ghibli tinha a coragem de seu pai, a doçura de sua mãe. A curiosidade, essa era de gato e, quando nessa tarde de Primavera partiu, já sabia o que o esperava. O bosque encantado não podia ser para sempre a sua fortaleza. Tinha que ver mais, saber mais, sentir mais.
Dizem por aí que quando deixou o bosque se achava preparado para tudo, capaz de tudo, só não o estava para o amor.
Ao terceiro dia de vaguear encontrou uma mulher que falava ao telefone, numa cabine pública. Observou a forma como desligou o telefone, se sentou no passeio e começou a chorar compulsivamente. Ghibli aproximou-se dela e perguntou, com a desfaçatez própria de quem não está habituado a lidar com outras pessoas no dia a dia, porque chorava. Ela, levantou os seus olhos castanhos marejados de lágrimas e de imediato se perdeu no olhar de floresta de Ghibli, no sorriso de vento, no toque de magia quando lhe tocou a mão. Sorriu-lhe e aí, aí foi ela que o enfeitiçou.

(continua)

4 comentários:

Terra de algodão disse...

Simplesmente mágico.Adorei este bocadinho...se continua,estarei atenta para ler o que se seguirá!

*Tenho a "Alice no país das maravilhas " original ,nos favoritos...
Aqui fica o URL:

http://ebooks.adelaide.edu.au/c/carroll/lewis/alice/complete.html

Anônimo disse...

Boa miúdo!... Venha mais.

Bjs da mumy.

Only Words disse...

Fico à espera do resto.... Deixar uma pessoa nesta ânsia não vale!! :)

Ginger disse...

Gostei imenso... ;) fadinhas, elfos...
Vou ficar à espera da 2ª parte.


kiss*