Vivia sozinha ao fundo da rua, aconchegada por meia dúzia de gatos vadios que recolhia de tempos a tempos.
O escuro das noites já não a assustava, aprendera a amá-lo ao som do relógio de corda que herdara do avô, homem de ombros largos e sorriso ausente, feito a pulso nas minas de Tungsténio, agora um museu às moscas.
Nunca casara. Nestas noites de solidão lembrava-se do Alberto que a mãe afastara com tanto afinco porque não era filho de boa gente. O moço acabara por se fartar e casar com a primeira que lhe apareceu à frente.
Quando se cruzavam na rua, ela baixava o olhar para a calçada e ele fazia menção de dizer algo que nunca passava a garganta. O silêncio dizia tudo.
Após a morte da mãe, refugiara-se nos livros que devorava, vivendo tórridos romances com as personagens, sofrendo das suas angústias e dos seus medos, rindo à gargalhada com as suas desventuras.
Criara um mundo só seu, onde só a recordação do Alberto a puxava para o mundo real. Vivia do que a mãe lhe deixara e de sonhos perdidos, revividos em livros.
Quando a noite chegava, fria como a alma que habitava o seu corpo por amar, espreitava à janela e desenhava corações no vidro embaciado pela respiração. Poderia o amanhã ser realmente um novo dia?
(continua)
O escuro das noites já não a assustava, aprendera a amá-lo ao som do relógio de corda que herdara do avô, homem de ombros largos e sorriso ausente, feito a pulso nas minas de Tungsténio, agora um museu às moscas.
Nunca casara. Nestas noites de solidão lembrava-se do Alberto que a mãe afastara com tanto afinco porque não era filho de boa gente. O moço acabara por se fartar e casar com a primeira que lhe apareceu à frente.
Quando se cruzavam na rua, ela baixava o olhar para a calçada e ele fazia menção de dizer algo que nunca passava a garganta. O silêncio dizia tudo.
Após a morte da mãe, refugiara-se nos livros que devorava, vivendo tórridos romances com as personagens, sofrendo das suas angústias e dos seus medos, rindo à gargalhada com as suas desventuras.
Criara um mundo só seu, onde só a recordação do Alberto a puxava para o mundo real. Vivia do que a mãe lhe deixara e de sonhos perdidos, revividos em livros.
Quando a noite chegava, fria como a alma que habitava o seu corpo por amar, espreitava à janela e desenhava corações no vidro embaciado pela respiração. Poderia o amanhã ser realmente um novo dia?
(continua)
4 comentários:
O amanhã será sempre um novo dia. A decisão de mudança, essa é que nos faz reflectir dias e dias e dias.
Mais um belíssimo texto.
Como sempre, Adorei.
:)
adiou a felicidade... e agora alimenta uma solidão preenchida por sonhos!
obrigada pelo reparo! nem me tinha apercebido! :)
pois ....como o homem que se alimenta dos sonhos em que joga
não viverá mais feliz em sonhos
que no tungsténio dos vossos contos
nos bimbos do volfrâmio ficava melhor
que bom que é ler-te!
kiss
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