Ponho o braço de fora e sinto as pingas resvalarem na pele. Aproximo o nariz e deixo-me inebriar pelo cheiro das primeiras chuvas, pela mistura de salgado do suor com o metálico da trovoada que ao longe se anuncia. O fim do Verão é lavado pelas águas que choram do cinza das nuvens que escondem o azul.
Viajo na estrada, a caminho de casa, e entre trovões e relâmpagos, abro o vidro só para ouvir o som da água a soltar-se, quando os pneus dos carros cortam caminho por entre um alcatrão alagado.Sentia já uma saudade imensa destes fins de dia.
Na escuridão que o crepúsculo anunciou, os raios tornam-se mais frequentes, e a trovoada que pensava ter deixado para trás, revela-se cada vez mais forte, cada vez mais poderosa., cada vez mais próxima. Sinto que me seguiu porque sabe que amo olhá-la. Sabe que nada me fascina tanto como este faiscar que amedronta quem passa na rua em passo apressado a tentar fugir-lhe.
Na escuridão que o crepúsculo anunciou, os raios tornam-se mais frequentes, e a trovoada que pensava ter deixado para trás, revela-se cada vez mais forte, cada vez mais poderosa., cada vez mais próxima. Sinto que me seguiu porque sabe que amo olhá-la. Sabe que nada me fascina tanto como este faiscar que amedronta quem passa na rua em passo apressado a tentar fugir-lhe.
A trovoada é uma mulher misteriosa, que vem não se sabe quando, não se sabe de onde e que não deixa ninguém indiferente. Parte sem deixar rasto e só volta quando quer.
Sim, a trovoada é uma mulher. Mexe com os cinco sentidos. Obriga-nos a olhá-la, a quere-la, a desejá-la, porque desejamos sempre o desconhecido.
Estaciono o carro e deixo-me ficar um pouco a ver no vidro as gotas de chuva que o vento arrancou. Umas ficam, outras escorrem traçando um caminho irregular. Podia ser a vida este traço no vidro do meu carro. Nunca se sabe para onde a gota vai deslizar. Abre caminho até desaparecer, até perder tudo de si. Sim, esta gota de água podia ser a minha vida e o seu trilho o meu mapa.
Vou até à porta de casa, não sem antes deixar que a chuva me bata no rosto, fazendo-me esboçar um sorriso. Que bom este prenúncio de Outono, que bom este adeus do Verão.
Sim, a trovoada é uma mulher. Mexe com os cinco sentidos. Obriga-nos a olhá-la, a quere-la, a desejá-la, porque desejamos sempre o desconhecido.
Estaciono o carro e deixo-me ficar um pouco a ver no vidro as gotas de chuva que o vento arrancou. Umas ficam, outras escorrem traçando um caminho irregular. Podia ser a vida este traço no vidro do meu carro. Nunca se sabe para onde a gota vai deslizar. Abre caminho até desaparecer, até perder tudo de si. Sim, esta gota de água podia ser a minha vida e o seu trilho o meu mapa.
Vou até à porta de casa, não sem antes deixar que a chuva me bata no rosto, fazendo-me esboçar um sorriso. Que bom este prenúncio de Outono, que bom este adeus do Verão.
25 comentários:
e só eu nunca acho que seja verão a mais! Vá, até podia chover e trovejar uns dias se depois voltassemos ao calor!
Mas a maneira como descreves faz-me ter vontade de que chova, para ir para a varanda sentir o cheiro da terra molhada.
Só não acho que a trovoada seja uma mulher, um homem ainda vá, forte e espadaúdo!!!
Tenho pavor à trovoada. Com ela toda eu estremeço. O coração fica acelerado e o suor começa a correr-me pela face. Desculpa, mas apesar de achar a tua metáfora muito boa, sou da opinião que a trovoada não tem sexo, porque uma mulher jamais exteriorizaria a sua ira de forma tão medonha!
O Outono traz-me um sabor a saudade, a nostalgia, a tristeza. Gosto da Primavera, faz-me bem o Verão.
O teu texto está 5*!
Beijoo
Cada vez escreves melhor meu amor. Adoro os teus textos. Cada palavra e sentimento impregnado na história...
Uma história real, esta que contas.
Anseio pelo nosso primeiro dia ou noite de trovoada juntos ;)
Amo-te muito.
Beijo imenso
Flôr*
Lia:
Quando ela chegou estava na Praia em Albufeira... e o cheiro... ai o cheiro.... é maravilhoso.
Beijo
Only:
"uma mulher jamais exteriorizaria a sua ira de forma tão medonha"
pois... não vou comentar, tá? lolol
Obrigado pelas tuas palavras :)
flôr:
E eu adoro que os adores :)
Elas só vêem quando querem :(
mas oportunidades não faltarão :)
Beijo daqueles :)
Mais um texto muito bonito a revelar uma alma sensível de poeta!
Um beijo!
Seremos nas nossas vidas tão errantes como as gotas de chuva que se vão transformando nos para-brisas dos nossos carros em dias de tempestade?
Aqui pelo Norte os dias continuam quentes, o Verão vai-se despedindo lentamente, à medida que as manhãs ficam mais frescas e os dias mais curtos.
Não posso dizer o mesmo da trovoada, mas adoro o cheiro da terra molhada pelas primeiras chuvas!
Belo texto, Menino!
Eu por cá acho que se comparas a trovoada a uma mulher, dever ter um cadinho de medo dela :) Ou se não tens, devias. Há pois devias...
Lídia:
alma, pele, corpo, dedos... tudo.
Beijo
Cookie:
Seremos? Não... somos! :)
Beijo
CF:
Só tememos aquilo que não compreendemos ;)
Beijo
eu não vi ...nem ouvi a trovoada :( tive pena
bj
teresa
Tô boba...
Que lindo, que sublime... MARAVILHOSO! Nossa... Como é possível escrever tão divinamente?
Somente um coração apaixonado a desenhar palavras tão... Tão incríveis! Tão sensíveis...
Estou extasiada... Que coisa mais linda.
Beijos!
Olá :)
Lindo post!
Que saudades que eu vou ter do Verão...
à trovoada, de tão poderosa e misteriosa, assusta me! Mas quando ela chega, não consigo resistir a observá la... POis é, o desconhecido empurra nos para a frente, seduz nos.
Beijinho*
deixei um miminho lá no meu cantinho...
Presente no meu canto!
Beijo!
Maravilhoso, como de costume.
Na minha viagem, passei muitas noites ao luar nos decks do navio, a ouvir o mar ser rasgado, a ver a espuma branca na noite negra. O mar espelho a lua de formas maravilhosas, sempre diferentes, noite após noite. Houve uma noite, em que a temperatura era de 39 graus, que choveu e houve imensos relâmpagos. O mar negro ficava por segundos rosa, depois branco e logo regressava a negro. Vou guardar estas imagens para sempre.
Continuando assim:
Vão vir mais :)
Beijo
Gigi:
Deixas.me sem saber que dizer, a não ser um obrigado do tamanho deste mar que nos separa :)
Beijo
Doce sussuro:
É irresistivel, não é? :)
Beijo
Lia e Just:
Vou tentar desta vez não me esquecer de os pôr aqui. O gesto esse, é inesquecível, obrigado, mesmo! :)
Beijos
Pipoca:
Welcome back! Isso sim deve ter sido algo inesquecivel. Quem me dera!
Beijo
Escreveste um dos textos mais maravilhosos do que penso e sinto como tu. A nostalgia da chuva, o regresso da serenidade, as primeiras chuvas... Retratas muito fielmente uma sensação interior de paz, como aquela de ver a chuva pelos vidros do carro e sentir todo o aroma do Outono.
Simplesmente belo.
Abraço
É sim... ;)
Beijinho*
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