Depois de três dias a penar, numa atitude de macho que não precisa de ir ao médico, lá decidi dirigir-me às urgências do Hospital de Faro.
Começa logo bem a chegada ao arrumarem-me com 9.40€ de taxa moderadora por modo das moscas. Ao que eu pensei imediatamente, pra onde irão os 150 euros que me tiram mensalmente do ordenado para a segurança social, não seria suposto cobrirem isso? Bem, eu sei que não sou moço habituado a estas lides de hospitais, e portanto foi um bocado chocante para mim. Mas é que pelo seguro de saúde da empresa, um pouco mais e vou a privado. Enfim...
Passo então à triagem onde sou atendido por um enfermeiro que mais me parecia um taberneiro e que falava com o colega olhando fixamente para mim (o colega estava ao lado dele). Ora o senhor, ao ouvir-me queixar de dores no corpo, febre, dor de cabeça e dificuldade em engolir, achou por bem dizer-me:
- O otorrino só volta as 15h!
Perante a estupefacção, repete,
- Ouviu senhor? Só a partir das três...
(E eu, what the fuck?, mas para que quero eu um otorrino?)
- Por acaso não pode ser clínica geral? É que não me parece que seja caso para um especialista!
- Quer geral? Tudo bem, você é que sabe!
Ao que eu pensei ya!!!!!
Bem, espetou-me com uma pulseira verde e pronto! (Isto após o meu ouvido ter sido sodomizado pelo colega, que não parecia um taberneiro, mas um apanhador de conquilhas, para tirar a febre)
Passo à sala de espera após a triagem. Entre um friso de velhas que viam um filme do Jackie Chan, duas ciganas de braço ao peito, um puto que tinha levado um selo na tromba e dois ou três de vista vendada, lá encontrei uma cadeira para me sentar e esperar.
A espera até corria mais ou menos, embora os de pulseira amarela me passassem todos à frente. (Deviam ver uma das ciganas, toda de preto, com a pulseira num amarelo quase fluorescente, ficava um must!!)
Eis que surge alguém à porta, olha para um senhor ao meu lado, que tinha pulseira laranja, e pergunta, então, tá tudo bem? Oh my god pensei, claro, o homem estava ali porque lhe apetecia. Engano meu! Pois a resposta foi um convincente, sim! Tudo bem e contigo? Pensei sinceramente, que depois disso, nada de mais estranho podia acontecer.
Mais uma vez, estava enganado.
De tabuleiro na mão, vinda de uma cantina qualquer, eis que surge uma senhora, com um índice de massa corporal de rebentar a escala. Melhor, a mini saia, de saia não tinha nada, era só mesmo mini! Senta-se precisamente à minha frente, um pouco distante mas mesmo na minha direcção. Entre sorver a sopa, mastigar o pão de boca aberta, acho que vi de tudo naqueles minutos. Para concluir pega na bela da malga, mete à boca e vá, mais uma sorvidela!! Impressionante.... mas... e há sempre um mas... o pior estava para vir, quando a bela criatura, para se elevantar, abre as duas pernas de tamanho colossal, que dariam na boa para cinco ou seis pessoas, deixando ver, algo que me recusei ver pois desviei o olhar tipo relâmpago (acho que vou ter pesadelos esta noite!)
Pouco tempo tive para me recompor. Já sem amarelinhos na sala, chamam-me a mim. Um médico com cara de poucos amigos mas que se revelou bastante profissional. A parte onde fui realmente consultado não vou comentar, pois é demasiado triste e deprimente ver o interior de um hospital que serve todo o sotavento algarvio, milhares e milhares de pessoas. Valham-nos os profissionais que por ele se movem. (Excepto o taberneiro e o apanhador de conquilhas, na minha óptica, claro).
Diagnóstico, amigdalite aguda. Tratamento, muitos líquidos e uns drunfos que ele para ali me mandou comprar.
E assim foi a minha tarde, passada num hospital e que, no meio de tanta brincadeira, digo que gostei muito de ver, uma velhota que esperava o marido que estava a ser consultado e que, ao chegar ao pé dela, lhe deu um beijo na boca... Acho que há amores assim, que duram toda uma vida...