- É depois de almoço e apetece-me despir-te.
- Aqui? 'Tás louco!
- Talvez esteja...
A rua afunilava numa viela esquecida por todos excepto por um ou dois gatos que a haviam tomado como seu território. Ao fundo, uma árvore enorme tornava o pequeno espaço entre paredes ainda mais sombrio e tentador. O pequeno banco à sua sombra, como se de um trono se tratasse, chamava por mim e por ela, como que querendo que fossemos senhores de uma terra de paixão, fogo e prazer.
Li-lhe nos olhos o medo que atava o desejo. Os seus lábios entreabertos, a respiração ofegante mas suave, que tentava a todo o custo disfarçar, as faces ligeiramente ruborizadas, eram a foto de uma mulher sedenta das minhas sugestões. Eu tentava controlar o desejo, mas só ouvia o banco à sombra do velho plátano, escondido de tudo e de todos, chamar por mim, chamar por nós.
- Já estou atrasada. Tenho de ir.
Nisto levanta-se sem me dar tempo de a agarrar. Sei o medo que tinha das minhas mãos, daquilo que lhe provocavam à flor da pele. Pôs o dedo nos lábios e pediu-me silêncio.
- Não digas nada. É nos teus olhos que faço amor, aqui nesta esplanada, dia após dia, sempre depois de almoço. Não quero mais, não podemos ter mais. Não somos certos um para o outro.
Sem proferir sequer um adeus, deixei-a perder-se pelas escadas do metro abaixo, primeiro todo o corpo, depois meio, ombros, cabeça e, finalmente, o cabelo, que me sabia a flores de jasmim de um jardim à beira-mar.
Era sempre assim a despedida. Ela a pedir-me silêncio e eu a acatar, revolto em sentimentos, preso nas sensações, esquecido de mim.
Levanto-me e desço a rua. A tarde amena embeleza-se com sons de uma ópera que ecoam, imunes ao ruído dos automóveis, na rua que desagua no cais. Tento encontrar caras conhecidas, vozes familiares, algo que me apazigue a dor desta solidão. A rua está tão cheia de vazio.
Não me apetece andar mais. Chamo um táxi, entro, sento-me, ignoro a conversa do taxista que versava algo sobre o governo ou futebol ou gajas e perco-me em pensamentos que me levam, invariavelmente, ao seu cabelo de cheiro a jasmim.
Amanhã voltaria a sentar-me na esplanada depois do almoço à sua espera. Ela viria, ou não. O banco à sombra do plátano, na viela esquecida, podia esperar mais uns tempos até ser trono.
- Aqui? 'Tás louco!
- Talvez esteja...
A rua afunilava numa viela esquecida por todos excepto por um ou dois gatos que a haviam tomado como seu território. Ao fundo, uma árvore enorme tornava o pequeno espaço entre paredes ainda mais sombrio e tentador. O pequeno banco à sua sombra, como se de um trono se tratasse, chamava por mim e por ela, como que querendo que fossemos senhores de uma terra de paixão, fogo e prazer.
Li-lhe nos olhos o medo que atava o desejo. Os seus lábios entreabertos, a respiração ofegante mas suave, que tentava a todo o custo disfarçar, as faces ligeiramente ruborizadas, eram a foto de uma mulher sedenta das minhas sugestões. Eu tentava controlar o desejo, mas só ouvia o banco à sombra do velho plátano, escondido de tudo e de todos, chamar por mim, chamar por nós.
- Já estou atrasada. Tenho de ir.
Nisto levanta-se sem me dar tempo de a agarrar. Sei o medo que tinha das minhas mãos, daquilo que lhe provocavam à flor da pele. Pôs o dedo nos lábios e pediu-me silêncio.
- Não digas nada. É nos teus olhos que faço amor, aqui nesta esplanada, dia após dia, sempre depois de almoço. Não quero mais, não podemos ter mais. Não somos certos um para o outro.
Sem proferir sequer um adeus, deixei-a perder-se pelas escadas do metro abaixo, primeiro todo o corpo, depois meio, ombros, cabeça e, finalmente, o cabelo, que me sabia a flores de jasmim de um jardim à beira-mar.
Era sempre assim a despedida. Ela a pedir-me silêncio e eu a acatar, revolto em sentimentos, preso nas sensações, esquecido de mim.
Levanto-me e desço a rua. A tarde amena embeleza-se com sons de uma ópera que ecoam, imunes ao ruído dos automóveis, na rua que desagua no cais. Tento encontrar caras conhecidas, vozes familiares, algo que me apazigue a dor desta solidão. A rua está tão cheia de vazio.
Não me apetece andar mais. Chamo um táxi, entro, sento-me, ignoro a conversa do taxista que versava algo sobre o governo ou futebol ou gajas e perco-me em pensamentos que me levam, invariavelmente, ao seu cabelo de cheiro a jasmim.
Amanhã voltaria a sentar-me na esplanada depois do almoço à sua espera. Ela viria, ou não. O banco à sombra do plátano, na viela esquecida, podia esperar mais uns tempos até ser trono.
8 comentários:
Que lindo, amor :)
Mais um texto teu que me arranca tantos sorrisos e suspiros.
Foi bom esperar para te ler. Muito bom mesmo.
Acalma os teus receios, porque esse dom que tens, o da escrita, não desaparece de um dia para o outro. E é quando menos esperas que fluem da tua mente textos tão especiais como este.
Onde me revejo em pequenos pormenores que me fazem sorrir.
Amo-te muito.
Flor
Adorei! :D
Fantástico! ;)
Nas tuas palavras há tantas vezes alguém que se vai embora... Apesar de toda a intensidade de sentimentos e palavras, de toda a expressão de gestos e beijos, há sempre alguém que parte...
Alguém que parte mas leva quem fica, ao cimo das escadas do metro, no olhar, no pensamento, no coração. Porque a cumplicidade passa por isso mesmo - estar com o outro mesmo quando esse outro não está... sentir o outro num arrepio da pele, mesmo sem se ser tocado... aspirar o odor a jasmim e a lírios, que persiste mesmo depois de tudo...
Lindas palavras, sublime regresso, Menino!
Tens um selo no meu blog :D
Beijinhos
Deu para visualizar a acção de cada palavra!
adorei texto! :D
beijinho
lindo, menino :) reforço as palavras da hyndra.. consigo imaginar a cena, tal e qual :)
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