O resguardo das almas esconde-se nas portas que se fecham. São elas que nos separam do mundo, que nos protegem, que nos fazem sentir seguros. São elas que transpomos quando odiamos a solidão e que tantas vezes escondem as nossas lágrimas.
Depois, há as janelas. Essas, não as transpomos. Olhamos através delas. Observamos o mundo lá fora, tememo-lo e por fim, decidimos arriscar ou não. Muitas vezes é através delas que nos chegam os cheiros e os tons daquilo que nos rodeia, enquanto nós, enclausurados na nossa fortaleza inventamos reinos, heróis e vilões, e tudo o resto que nos permita viver sem o fazer.
É na sala das traseiras que me sinto melhor. Tem a porta e uma janela a toda a largura da parede, mesmo de frente para o imenso.
Encostada ao parapeito está a secretária. A mesma que serviu de base ao meu avô que, na sua máquina de escrever cinzenta, olivetti, salvo erro, martelou no papel as histórias que a Tia Ana lhe contava ao entardecer de dias de Verão que a minha memória não alcança.
A madeira está polida pelo tempo e é nela que deito as minhas folhas de papel, quais amantes sedentas de tinta. Transporto o azul do mar para o branco marfim do papel em traços erráticos, ao ritmo de um sentimento vagabundo.
Sai-me um poema, uma estrofe desgarrada, um texto melancólico e taciturno, a relembrar as saudades das planícies.
Já não tenho planícies que me faltem.
Flutuo no ar denso de nevoeiro e quando quero pousar, a terra falha-me sob os pés.
Cerro os olhos com força, para impedir que as lágrimas vertam um pouco da alma apertada que se amarrou ao meu peito.
A caneta cai-me das mãos. Levanto-me, fecho as cortinas e viro as costas ao som das ondas a beijarem a areia. Não quero mais mar hoje. Não quero mais sombra de sol ou reflexo de Lua. Hoje quero a minha casa. O cheiro da madeira e o ranger do soalho. Quero a cama e os lençóis frios. Hoje, quero-me a mim.
Depois, há as janelas. Essas, não as transpomos. Olhamos através delas. Observamos o mundo lá fora, tememo-lo e por fim, decidimos arriscar ou não. Muitas vezes é através delas que nos chegam os cheiros e os tons daquilo que nos rodeia, enquanto nós, enclausurados na nossa fortaleza inventamos reinos, heróis e vilões, e tudo o resto que nos permita viver sem o fazer.
É na sala das traseiras que me sinto melhor. Tem a porta e uma janela a toda a largura da parede, mesmo de frente para o imenso.
Encostada ao parapeito está a secretária. A mesma que serviu de base ao meu avô que, na sua máquina de escrever cinzenta, olivetti, salvo erro, martelou no papel as histórias que a Tia Ana lhe contava ao entardecer de dias de Verão que a minha memória não alcança.
A madeira está polida pelo tempo e é nela que deito as minhas folhas de papel, quais amantes sedentas de tinta. Transporto o azul do mar para o branco marfim do papel em traços erráticos, ao ritmo de um sentimento vagabundo.
Sai-me um poema, uma estrofe desgarrada, um texto melancólico e taciturno, a relembrar as saudades das planícies.
Já não tenho planícies que me faltem.
Flutuo no ar denso de nevoeiro e quando quero pousar, a terra falha-me sob os pés.
Cerro os olhos com força, para impedir que as lágrimas vertam um pouco da alma apertada que se amarrou ao meu peito.
A caneta cai-me das mãos. Levanto-me, fecho as cortinas e viro as costas ao som das ondas a beijarem a areia. Não quero mais mar hoje. Não quero mais sombra de sol ou reflexo de Lua. Hoje quero a minha casa. O cheiro da madeira e o ranger do soalho. Quero a cama e os lençóis frios. Hoje, quero-me a mim.
3 comentários:
Menino do Mar, que bonito! Quando afirmamos e decidimos que é a nós que nos queremos, é muito bom. Faz-nos sentir melhor conosco o que é preciso apra conseguirmos encarar os outros, até aqueles que nos querem mal! Lindo este texto.
Boa sexta!
Bjs
T&T
(Di)
Se te queres a ti, é porque estás de bem contigo e isso é sempre o mais importante na vida!
"É na sala das traseiras que me sinto melhor. Tem a porta e uma janela a toda a largura da parede, mesmo de frente para o imenso.
Sai-me um poema, uma estrofe desgarrada, um texto melancólico e taciturno, a relembrar as saudades das planícies."
Todo o teu texto é de uma sublimidade desconcertante. muitas vezses leio-te sem comentar porque nao se consegue comentar o indizível. E essas lágrimas deitadas são a tua maior força.
UM grande abraço agradecendo a partilha do teu ser. Muito a sério.
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