Amamos porque nos é conveniente amar. A vida enche-nos dessa promessa de felicidade eterna e partimos na busca infrutífera de alguém que traga o que nos falta, alguém que nos complete e leve para sempre e para longe toda a infelicidade.
Amamos porque nos dizem que a vida sem amar não faz sentido, que a dois tudo é melhor e nada vale a pena se não for partilhado. Amamos porque sim.
Amamos porque esperamos sempre mais, porque nos falta sempre algo, porque temos esta sede eterna de não estarmos sozinhos.
E ao amarmos, o que acontece? O paraíso ao princípio, tudo o que sempre nos disseram que seria e muito mais ainda.
E depois? Depois tudo muda. A vida acontece e, desengane-se quem achar que ela pode não acontecer. A vida acontece sempre. O paraíso fica pálido e o som dos riachos que nos embalava é agora um irritante e perturbador barulho que teima em ser a banda sonora dos nossos dias. As aves já não cruzam os céus. Nem o sol já aparece.
Os dias tornam-se anos infindáveis.
Porque amamos? Pelo paraíso. Por mais breve que seja, existe, e faz valer a pena buscá-lo.
Amamos porque sim e por mais vezes que este paraíso empalideça, por mais vezes que os riachos se tornem em irritantes barulhos de fundo, voltamos sempre a querer amar. Porque nos disseram que o pôr do sol só vale a pena a dois. Como se o sol se importasse ou fosse menos belo por isso...
Amamos por amar, apenas isso.