domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de Setembro

Toda a gente fala, toda a gente recorda, toda a gente suspira e humedece o olhar ao falar da tragédia do 11 de Setembro. Eu não sou excepção.
Sim, recordo-me onde estava e o que fazia no preciso momento em que fizeram a primeira ligação em directo a Nova Iorque e, principalmente recordo-me do embate, em directo, do segundo avião. Recordo o colapso das torres, recordo as polémicas, as teorias da conspiração, mas, sobretudo, recordo-me do que aconteceu depois.
Dez anos passados, e no local dessa tragédia constrói-se uma torre nova, um memorial, um jardim, algo que não sei bem ainda o que vai ser, ah, e tem algo de liberdade no nome.
Os políticos vão perfilar-se todos hoje, e fazer discursos sentidos. As pessoas vão levar flores, mensagens e chorar pelos seus familiares ou, na falta de tal, pelos seus conterrâneos. As televisões vão transmitir em directo e solicitar aos sempre opiniosos comentadores, que digam o que mudou no mundo em 10 anos.
Eu vou continuar a acreditar que uma vida é sempre uma vida e uma morte é sempre uma morte. Recuso-me a achar que só porque há ligações em directo e fotos e opiniões e políticos chorosos, essas duas mil e tal mortes do dia 11 de Setembro de 2001 valem mais que 1.220.580 mortes violentas devidas à guerra no Iraque (até 2007) ou os milhares de mortos no Afeganistão.
Principalmente revolta-me esta arrogância em que nós ocidentais achamos as nossas vidas superiores às do "terceiro mundo", em que os nossos meios de comunicação social, em vez de potenciarem os valores da igualdade, da solidariedade e da compaixão, se movem por interesses económicos e sectaristas, que nos poluem a mente desta visão ignóbil que o 11 de Setembro foi uma tragédia, mas o facto da grande maioria dos ditadores dos países árabes terem sido apoiados pelos países ocidentais a reprimirem e muitos a dizimarem os seus povos e que as guerras que advieram do atentados às torres gémeas e que provocaram milhões de mortes directas ou indirectas, são justificáveis.

O 11 de Setembro provoca-me uma enorme revolta, uma revolta na alma, e por uma vez que fosse, gostaria que se perguntasse numa rádio, televisão ou portal de internet, não onde eu estava nesse dia, mas onde estava no dia em que um pai saiu em Bagdad para comprar pão no mercado e não voltou mais, vítima de um atentado, ou que perguntassem onde estávamos todos nós, onde estamos todos nós que permitimos estas permanentes violações dos direitos humanos mais fundamentais dia após dia, ano após ano.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Dos teus dedos



Dos teus dedos,
soltam-se remédios
para os meus dias cinzentos.

As tuas letras,
em carreirinhos suaves,
são encostas onde deslizo,
me encontro,
e me compreendo.

Os segredos, desejo-os a medo.